31.3.06

O soneto do medo de esquecer

















Tenho medo dos meus pensamentos
Condeno e liberto a própria essência de viver
Deixo a culpa enlaçar os meus lamentos
E por um instante desejo morrer

Pelo menos uma vez por dia
Ou será um dia por vez?
Tento esquecer minha agonia
e a tristeza que alguém me fez

Sentir pra sempre pode ser exagero
Mas também de menos é subestimar
O amor e todo o seu destempero

Por quem ou por que devemos esconder
Quando o desejo completo é de amar
E tem gente que prefere esquecer?


Sim, eu me abalei depois de assistir esse filme.

30.3.06

Quero ir embora daqui

Esses dias estava passeando pelos canais da TV aberta quando dei de cara com um deputado federal, o qual não recordo o nome – todos têm a mesma cara de safado – defendendo os altos salários e todas as regalias que esse bando de sem-vergonhas recebe.

Creio que os números andam batendo na casa dos vinte e poucos mil reais. O tal deputado alegou que “pessoas qualificadas e preparadas como (eles) devem ter ganhos compatíveis com as funções desempenhadas.”

Ok, ok, senhor deputado filho duma grã puta. Então o senhor poderia me explicar porque os professores do Estado ganham uma merreca? Eles não são qualificados para desempenhar essa função? A maioria tem até mestrado. Se não fossem eles, nem mesmo os políticos seriam políticos. E os médicos do SUS? Até onde eu sei, os caras se matam de estudar na faculdade. E recebem um subsídio miserável do governo. A lista poderia ir muito longe mas prefiro parar por aqui.

Um absurdo. É vergonhosa essa prática desenfreada de políticas neoliberais que enchem poucos rabos de dinheiro e estouram as pregas da maioria.

Eu não acredito mais no sistema.

29.3.06

Treze

Depois do quase desespero de tentar abraçar 36 créditos nesse semestre, incluindo a monografia e projeto de especialização, e quase chorar diante da possibilidade de não poder alcançar o tão sonhado título de BACHAREL por causa de UM mirrado crédito eletivo, a UFRGS me dá um verdadeiro presente. Ganhei ONZE créditos, referentes ao período que cursava relações públicas – finalmente descobri para que serviu essa época.

Agora são 13,13%, do total de 198 créditos, até botar a mão no CANECO. Essa semana eu tratarei de aplicar o irascível PEDALA ROBINHO em um seminário de literatura enfadonho e numa macilenta introdução à sociologia. Porque discutir o rebuscamento do Euclides da Cunha já é demais pro meu estômago acostumado com a linguagem “macia” de Bukowsky e Pedro Juan Gutierres.

24.3.06

Quase um soneto de desamor

Tenho pressa de voltar
Deixar pra trás as luzes que você apagou
Não tem mais domingo de sol
Logo vou estar longe daqui

Mas tenho medo
De tudo que eu não disse
Não tem mais como guardar aqui

Vai e me deixa agora
Eu preciso crescer
Eu vou embora daqui
Pra esquecer os dias que eu sonhei que amava você

Não feche a porta, não adianta
Não pare na frente
Nenhuma canção de amor vai me fazer entender

E mesmo que tudo aconteça
Só mais uma vez
A minha certeza não vai cair sem porquê

Pra não dizer que não falei de amor

Impossível viver e não lidar com a existência do amor – ou falta dele - a partir do momento que fazemos coisas que exigem nossa dedicação, seja um trabalho de faculdade, ir para a agência – ou para o escritório, fábrica, etc. – e as nossas relações sociais. Para fazer um ótimo trabalho, precisamos de técnica, competência e dedicação. Para fazer um trabalho fora de série, magnífico, sem precedentes, além do talento, precisamos de amor. É fato que pessoas apaixonadas vivem melhor, trabalham melhor, parecem melhores. O amor transforma, reanima, reacende, é importante, é inerente à existência. Mas quanto costuma durar um amor?

Costumam dizer que amor de pai é mãe é eterno. Eu digo que não. Pelo menos no que concerne meu pai – do qual quero apenas distância, longa distância. Amo minha mãe e tenho certeza que vou amar sempre, assim como ela, embora eu seja um tremendo grosso filho da puta achacador de dinheiros. Tá, mas não é pra falar da minha mamãezinha que eu estou escrevendo.

O amor incondicional é efêmero. Quando alguém ama outro alguém de forma passional, é efêmero. Me parece que a coisa é tão intensa que uma hora murcha. Não, não estou falando de casamentos duradouros, daqueles que comemoram bodas de ADAMANTIUM, entre bisnetos e dentaduras frouxas. Casamento não tem nada a ver com amor. Ok, ok, no começo tudo são flores, coisa de pele, aquele grude. Paixão. Fogo. Não tem nada ver com amor. O amor vem com o tempo. E acaba com ele também. É impossível amar alguém que tu não conhece bem. E é impossível amar se não existe o mínimo de percepção sobre a mutabilidade constante do ser humano. Estamos em constante aprendizado, evolução, decadência, não importa. Não somos os mesmos, dias após dias. Sempre haverá um filme, livro, uma música, uma coisa que alguém fala e nos deixa catatônicos, hipnotizados, pensando apenas “minha vida não será a mesma depois disso”. E isso não significa deixar de lado valores, princípios ou sentimentos. É simplesmente uma nova maneira de enxergar as coisas. Existem muitas formas de ver. Tem gente que se fecha para outros pontos de vida e acaba vivendo dentro de uma redoma, gerada pela própria ignorância em não querer descobrir o que existe fora do alcance do mundo que vive. Isso me lembra muito a alegoria da caverna, de Platão , que não comentarei em razão do bom senso.

Se fechar para o mundo é negligenciar o amor, pois saber conhecer o mundo é uma forma de amar a própria vida. Pessoas que não aceitam a verdade que não lhes pertence exclusivamente não merecem amar, portanto, não merecem ser amadas. Negar a mudança do próximo é negar o próprio conhecimento. Recusar as tentativas de salvação presentes nos gestos mais simples é recusar o próprio amor, em todos os seus níveis.

Não acredito muito no bom senso da humanidade. Cada vez mais tenho provas – que não caberiam aqui se enumeradas - de que ele é cada vez mais raro. Cada vez mais acredito na efemeridade das relações amorosas. Mas haverá alguém que perguntará “mas tu não ama os teus amigos, tua mãe, a música, tua vida, cabrón?”.

Não, eu sou simples e completamente apaixonado por tudo isso.

22.3.06

TORTARIA É PORCARIA

Quarta-feira, 17h20. Faz aproximadamente TRÊS HORAS que fiz um pedido de DOIS empanados de frangos, DUAS saladas light, DOIS refris e UM suco de laranja para a TORTARIA, conhecida brasserie do elegante bairro MOINHOS DE VENTO. Quanto tempo será que alguém normal leva para ajeitar tudo isso numa embalagem pra viagem? Sim, porque esse tipo de produto deve estar pronto na loja, apenas esperando por alguma alma faminta por poucas calorias. Alguém como eu, que fiquei trabalhando durante o horário do almoço, entrei numa reunião cedo da tarde e, assim que saí, resolvi pedir uma comidinha rápida, já que ainda teria uma pauta bem gorda pela frente.

Exatamente às 14h45 liguei para essa elegante brasserie e fiz o pedido, para mim e uma colega de trabalho, igualmente faminta. A previsão de entrega? 20 minutos, afinal de contas, estamos há poucos mais de SEIS quadras de distância. Ótimo. Provavelmente, pela rota dos motoqueiros, seríamos as primeiras agraciadas pelo lanche desprovido de altas calorias. Às 15h30, a fome já se manifestava em barulhos insossos que ecoavam em minha barriga. Tudo bem, pensei. O motoqueiro deve ter se atrasado um pouco.

Às 16h, já incomodada pelo ronco da barriga de minha colega, que parecia meio pálida, resolvi ligar para saber o que havia acontecido com nossos empanados de frango. “Desculpe pelo atraso, senhora. Vamos estar entregando em, no máximo, 15 minutinhos. Obrigada pela compreensão”. Sim, moça. Eu até posso ser compreensiva, mas fala isso pro meu estômago, que a essas alturas já está nas costas. Como a pauta continuava apertada, não me restou outra alternativa a não ser esperar os 15 minutinhos.

Entre uma reunião e outra, percebi que os 15 minutinhos já tinham virado CINQÜENTA. Liguei novamente. A mesma pessoa que me pediu compreensão com o atraso de uma hora, me disse que o motoboy não havia encontrado o endereço. “A senhora pode confirmar o endereço?” Claro que posso. Confirmei o endereço do lugar que passo, pelo menos, 10 horas do dia, todos os dias, e ainda tive que ouvir “Minha senhora, no nosso cadastro não consta esse endereço. A senhora pode confirmar novamente?” Puta que o pariu, além de tudo me chamou de mentirosa. Eu, verde-limão de fome, sendo obrigada a escutar que o lugar onde eu trabalho simplesmente NÃO EXISTE. É demais pra minha angústia gastronômica.

Depois de confirmar novamente o endereço, desliguei o telefone e tentei voltar ao trabalho. Impossível, a fome já havia tomado proporções epopéicas e meu estômago, a essa altura, já deveria ter fugido, correndo em busca do primeiro morte-lenta* com bastante molho, milho e batata e palha.

Duas horas e 10min depois de feito o pedido, me rendi às bolachas água e sal molengas que o redator júnior me oferecia, com disfarçada compaixão. Minha fome aumentava cada vez mais e o ronco da minha barriga começava a causar constrangimento entre os colegas. Aliás, minha amiga, que fez o pedido comigo, já devorava uma gordurosa empada de frango comprada na quitanda da esquina. E eu resistindo bravamente. Até a ligação da moça da brasserie Tortaria, que havia me pedido compreensão quase três horas atrás. “Senhora, sabe o que acontece?” Meu deus, o quê? Vocês foram invadidos pelos sem-terra? “É que nós achamos que o seu telefone está errado, pois tentamos ligar para confirmar o endereço e...”.

Desliguei o telefone na cara da moça que havia me pedido compreensão, faminta e indignada, ofendida pela falta de consideração da brasserie Tortaria, localizada no elegante Moinhos de Vento, e fui ao supermercado comprar um sanduíche de mortadela, um pote de sorvete e uma coca-cola dois litros. Por isso agora, indignada e com a barriga cheia, eu prego a vocês que nunca mais peçam ou freqüentem esse lugar, o Café Brasserie Tortaria, uma verdadeira porcaria.
Texto escrito pela magnífica Letícia Medeiros.

20.3.06

DISK-FIASCO

Fica decretado que, a partir de hoje, todos os carros de tele-mensagens serão chamados de DISK FIASCO.

Depois do que eu vi na despedida de solteiro do meu amigo – e afilhado – Couto, fui obrigado a mudar o conceito que tinha sobre pagação de vale.

Valha-me JESUS.

16.3.06

Protocolo pra quê, seu?

Faltou um maldito crédito para completar os trinta e sete necessários para que eu forme ainda neste semestre. Tentei ajustar aqui e ali, fosse no site da UFRGS, na secretaria ou na COMGRAD. Nada. Me negaram o ARRÊGO em todas as instâncias. Desesperado, quase conformado com a possibilidade de virar bacharel apenas no final do ano, fui até o DECORDI em busca da última tentativa. O parceiro para essa bravata foi o Zé, igualmente fodido, que precisava de quatro créditos. NO DECORDI uma simpática ruivinha me disse que eu poderia reaproveitar os créditos das cadeiras que fiz quando cursava RP. “Até que esse curso serviu pra alguma coisa”, pensei em voz alta. Resolvi solicitar a liberação de doze, o mesmo número de créditos de eletivas que estou cursando agora. Se funcionar, tratarei de cancelar todas pra me dedicar apenas à monografia. Ou seja, em tese ficarei BEM BAIXADO.

Requerimento preenchido, fomos encaminhados ao senhor PROTOCOLO GERAL DA UFRGS. Defronte ao único guichê aberto, esperei cerca de 4 minutos até que o senhor funcionário terminasse de preencher algo que parecia um volante de loteria. Prefiro acreditar que era outra coisa mais PROTOCOLAR. Entreguei meu requerimento e me preparei para ouvir um dos diálogos mais insólitos da semana.

Eu – Preciso entregar esse histórico também?
Funcionário – Não sei. Ô Rê, tem que entregar o histórico também?
Rê – Não sei. O que diz aí?
Funcionário – Onde, Rê?
Rê – No requerimento.
Funcionário – Deixa eu ver...ah, é. Tem que entregar o histórico e o atestado.
Eu – Tá, o histórico já está aí na tua mão. Mas que atestado é esse?
Funcionário – Bá, num sei. Rê, que atestado é esse?
Rê – Atestado? Hummm, não sei.
Funcionário – É, cara. Eu não sei. Tem que ver lá com o DECORDI.
Eu – Mas eu acabei de vir de lá. A guria me disse que era só entregar o requerimento.
Funcionário – Ah bom, se eles disseram então tá bom.
Eu – E qual é a previsão pro resultado do processo?
Funcionário – Ah, não sei. Tem que ver lá com o DECORDI.

Nesse momento o Zé me puxou de canto e disse que já sabia como funcionava o esquema, que depois me explicaria. Agradeci ao funcionário e fui embora, pensando na inoperabilidade do sistema público, nesse caso em âmbito FEDERAL. Como deve ser BARBADA ficar ali atrás de um guichê, apenas carimbando papéis e encaminhando processos por números, sem ter a mínima idéia do que se trata, sem fazer nenhuma questão de querer saber o que está fazendo. Oito horinhas de pura MAMATA, com a conivência da Rê, diga-se de passagem.

Se eu perguntasse pro atendimento o que é um BROADSIDE, seria demitido na hora, além de, provavelmente, ouvir uma sonora GAITADA.

15.3.06

Eu tinha uma vaquinha...

Indo para Buenos Aires de ônibus, logo percebi que a paisagem que se desenhava através da janela era composta, basicamente, de pastos (centenas de quilômetros deles), vacas e carros abandonados na beira da estrada (muitos carros).

Foram mais ou menos 10 horas de viagem. Entre Paso de los Libres – na fronteira com Uruguaiana – e Buenos Aires, apenas três cidades (que eu me lembre): Gualeguaichú, Morocota e Zarate. Todas resumidas em um pequeno paradouro. Às vezes pintava um pórtico. Algumas tímidas construções.

Ah, e aquela ponte imensa sobre o rio Uruguai. Um advento da arquitetura porteña. Muy lindo, pois sim.

7.3.06

O retorno

Depois de meses abandonado, resolvi voltar a escrever neste blog.

Em breve, o relato de minha viagem a Buenos Aires e o retorno bizarro a Porto Alegre.

Não percam.