26.4.06

Maria

Maria acordou às 6h, como de costume. Primeiro esfregou as mãos nos olhos, embaçados pelo astigmatismo que a acompanha desde adolescente, depois levantou-se silenciosamente da cama, para não despertar o marido, que ainda dormia. Foi até à cozinha preparar o café para ele e para as crianças, que em breve estariam de pé para saírem de casa. Eram três filhos. Dois já homens feitos. O caçula, de 11 anos, nascera com certo atraso mental, e estava agora na 2ª série do primário. Esse foi o primeiro a acordar e ir até a cozinha, abraçar a mãe, Maria, que preparava a sopa de arroz que serviria no café. Os tempos já foram melhores, houve uma época em que Maria podia servir pão com manteiga e Nescau para as crianças. Mas isso fora antes de seu marido ser despedido daquela empresa que foi comprada por uma gente branca e esquisita, que vinha lá das bandas da Europa. Disseram que a mão-de-obra deveria ser mais qualificada e, ao invés de ensinarem os funcionários a fazer as coisas do jeito que eles queriam, preferiram trazer mais funcionários brancos e esquisitos daquelas bandas da Europa. Oh sim, os tempos já foram melhores. E agora lembrava-se disso enquanto o caçula a abraçava, com o carinho que só os filhos caçulas têm. Em seguida os outros homens da casa acordaram, lavaram-se, vestiram-se e comeram a sopa de arroz que Maria servira. Um beijo no rosto de cada um e lá estava ela, sozinha com o caçula. O relógio já marcava 7 horas da manhã e, se não se apressasse, chegaria atrasada à escola. Vestiu-se apressadamente e desceu a rua, em direção ao Hospital São Pedro. Quando chegou na parada de ônibus lamentou-se por não ter trazido a sombrinha; começara a chuviscar, fraquinho, mas daquelas chuvas de molhar bobo. Como não era boba, Maria tratou de ficar, juntamente com o caçula, debaixo da proteção construída especialmente para a parada de ônibus. Bonita e suntuosa, a cobertura lembrava-lhe os tempos melhores que não mais vivia. Os estilhaços de vidro, provavelmente resultantes da ação de jovens embriagados sem nada melhor pra fazer, obrigavam-na a ficar de olho no caçula, para que este não brincasse descuidosamente com nenhum dos cacos.

O ônibus veio lotado, como de costume. Maria entrou, com o caçula na frente, e apertou-se entre as pessoas. Uma gentil senhora, percebendo a deficiência da criança, cedeu seu lugar, gesto que foi instantaneamente retribuído com um sorriso doce e sincero de Maria. Ela sentou-se, com o caçula no colo, e começou a pensar nas coisas que deveria fazer durante o dia. Primeiro deveria deixar o caçula na escola. Iria abraçá-lo forte, como de costume. Ele lhe daria beijos molhados no rosto e ela agradeceria a Deus pela dádiva de um filho tão carinhoso, embora tivesse aquele atraso mental que, no fundo, para ela não fazia a menor diferença. Pelo contrário, talvez em função disso amasse ainda mais seu filho. Iria vê-lo correr em direção à sala de aula, cumprimentar os coleguinhas e dar aquela última olhada para trás. Tchau mamãe! – ele gritaria da porta da sala. Depois disso deveria voltar pra casa, terminar de costurar as roupas de Dona Joice, lavar os uniformes de futebol dos meninos e camisas xadrez do marido, levar as roupas até a casa de Dona Joice, receber o dinheiro pelo serviço e, talvez comprar um frango no armazém do Alemão. Pensava já no jantar, pois era dia de São Judas Tadeu e achou por bem designar um pouco do seu ganho para comemorar com a família, pedir por tempos melhores que não mais viviam e agradecer por ainda estarem vivos e com saúde. Enquanto pensava em tudo isso, esperava o ônibus para retornar ao Partenon. O ônibus veio vazio e ela sentou-se em um dos primeiros bancos. Acomodou-se bem e olhou pela janela, observando os carros que passavam, a chuva que caía timidamente...deu um suspiro e fechou os olhos, pensando em descansar um pouco, pois acordara bastante cedo. Eram 9h30 quando fechou os olhos. Deu mais um suspiro e deixou o queixo pousar suave sobre o ombro, a cabeça encostada no vidro da janela.

Foi seu último suspiro. Não haveria mais porque se preocupar com os tempos melhores porque não mais viveria para testemunhar as dificuldades que os tempos atuais traziam, junto com a chuva que continuava a derramar timidamente sobre os carros que passavam. Morreu ali, sentada no primeiro banco de um ônibus vazio, em direção ao Partenon, olhando pela janela como sempre fazia. Vendo a vida passar. A vida que não mais lhe pertencia.

Mas pertencia a mim, que vi Maria morrer, de dentro de um dos carros que passavam pela rua, enquanto a chuva caía.

Trilha Sonora: Crosby, Stills, Nash & Young – Déja-vu.

25.4.06

Rede Moinhos

Hoje eu realizei uma tremenda descoberta: tenho SEIS redemoinhos na cabeça.

Acho que não descobri antes porque nunca usei o cabelo tão curto quanto agora. Provavelmente ninguém nunca nem enxergou isso. Ou o barbeiro é mentiroso ou não entende porra nenhuma mesmo. O cara que cortou meu cabelo – hoje - me contou que os antigos costumavam dizer que a quantidade de redemoinhos estava relacionada com a inteligência do sujeito, ou seja, quanto mais redemoinhos mais inteligência. Então resolvi usar um pouco dela para tentar entender melhor o real significado da existência desse fenômeno na cabeça das pessoas e, principalmente, na minha.

Coloquei no google e PIMBA! Os primeiros resultados são referentes ao fenômeno da natureza, depois apareceu um informativo com esse nome, algumas citações em sites de filosofias orientais, coisas falando de chakras e espirais da boa vontade, ou coisa parecida, etc. Desisti quando cheguei na quarta página sem ter feito nenhuma descoberta relevante. Ah, em outro site descobri que o número de redemoinhos pode indicar alguma deformidade congênita ou patologia, como síndrome de down, disritmia, entre outras coisas bem menos agradáveis, acho.

Bom, ou sou muito inteligente ou uma besta completa. Acho que nem quero mais saber o que isso significa. Foda-se. Pelo menos cheguei à conclusão que ninguém andou dedicando seu tempo à pesquisa e divulgação dos significados científicos ou místicos da existência de redemoinhos nas cabeças das pessoas.

Ah, e também que o meu côco é torto. Qualé o problema?

19.4.06

Será?

Ronaldinho Gaúcho é o melhor jogador de futebol de todos os tempos.
Alguém ainda duvida disso?

17.4.06

Dia

Acordo. Desligo o despertador. Fecho os olhos. Sonho acordado. Abro os olhos. Salto da cama. Tropeço até o banheiro. Água fria na cara. Gel. Pasta de dente. Meias. Casaco. Escadas. Café. Partida no carro. Rampa da garagem. 20 km até a empresa. Bom dia, bom dia, bom dia. Como foi o final de semana? Café queimado. E-mail estragado. TI informa: problemas no servidor. Reunião de pauta. Reunião de brain. Toca a escrever. Meio dia. Pulo na piscina. Seco entre dedos. Cabelo molhado. Buffet agitado. 20 passos até a empresa. Boa tarde, boa tarde, boa tarde. Como foi o almoço? E-mail ainda estragado. Café continua queimado. Barulho, barulho. Fone de ouvido. Rock no talo. Prazo estourando. Atendimento gritando. Coordenação foi embora. Já são seis horas. Quase na minha hora. Mochila nas costas. Chego na escola. Boa noite, boa noite, boa noite. Como foi o seu dia?

Mais um dia, como todos os outros. Trabalhando para alimentar, a mim e ao sistema. Olho para a frente e tenho de ver o que pode o futuro me reserva. Será que é isso que eu quero? Será que estou no caminho certo? Enquanto não tenho respostas para essas perguntas, encerro mais um dia, em direção a outro dia. Mais um dia. Menos dias. Contagem progressiva ou regressiva?

Ah, feliz páscoa.

12.4.06

Comemoração anacrônica

O Grêmio é campeão gaúcho. E o que é melhor, título conquistado em cima do super-mega-blaster-ultra-arqui-rival Internacional. Ah, que ternura. Ver o Beira-Rio calando-se diante do gol espírita do Pedro Júnior. 1x1. Um jogo sem vencedores mas que teve um gosto insólito de derrota para os colorados que amargam, assim, mais um falecimento nas areias em frente ao oceano. Lastimável. Mesmo sendo gremista eu admito abertamente que não acreditava no insucesso dos Diamantes Rubros. Comecei a acreditar lá pelos 15 minutos de jogo, quando vi que o tricolor começava a AMASSAR o colorado. Depois do gol de empate ajoelhei-me na frente da TV, abraçado a um Santo Expedito. Detalhe: eu estava na agência, cercado de coloradas que, a todo momento, ameaçavam a minha integridade física com gritos e pontapés. Sim, fui quase linchado por uma turba de mulheres alucinadas que assistiam ao jogo comigo. Tá, tudo bem, exagerei um pouco.

Depois do jogo – e de revisar um manual de treinamento redigido por algum semi-analfabeto qualquer – me debandei para a Goethe (que fica a 2 quadras de onde eu trabalho). A rua já estava completamente tomada por um oceano azul e agitado, barulhento e irremediavelmente exposto à felicidade única que apenas um triunfo sobre o co-irmão da beira do rio pode proporcionar.

Em minha opinião, o melhor acontecimento social que alguém pode fazer parte. Senti-me inteiramente à vontade, mesmo não conhecendo ninguém. Cada um dentro de seu próprio mundo, cada mundo unido a outros por três cores, uma bandeira, uma paixão. Um esporte. Um time. Uma unanimidade assustadora. As pessoas se abraçando, gritando, vibrando, pulando, entoando hinos da torcida ALMA CASTELHANA, da qual eu, orgulhosamente, me considero integrante depois de fazer parte de inúmeras avalanches, em uma época nem tão distante assim, quando o grêmio era apenas um preterido time de segunda divisão.

Naquele momento todos foram um só. Um único grito, que estava preso na garganta já há alguns anos. Um título em cima do Inter. Quer coisa melhor? Não. Nada pode se compara a isso. Foder o colorado não tem preço. É um fino prato que deve ser degustado com requintes de crueldade. E participar de uma comemoração como a de domingo é a sobremesa perfeita, recheada de manifestações exacerbadas de alegria, paixão e amizade incondicional.

É isso. Grêmio Campeão Gaúcho 2006. E os galácticos foram pro espaço. Que deus os tenha.

6.4.06

Um dia a casa cai...

...e hoje ela caiu afú.

Por isso eu digo, BACKUP DE ARQUIVOS É O QUE HÁ.

Hoje eu me virei nos TRINTA. Literalmente.

555

Sempre apreciei listas mas nunca tive paciência suficiente para terminar nenhuma. Então, já que estou com a macaca, resolvi fazer CINCO de uma vez só, com os TOP 5 de algumas categorias que eu tenho por hábito analisar profundamente. Nenhuma está na ordem, até porque seria DEMASIADO complicado. É simplesmente o que eu estou curtindo no momento, os discos que eu escuto no carro e enquanto redijo mais um conceito para vender fechaduras e sandálias da barbie. As bandas, as vozes e as guitarras que eu tenho idealizado. As músicas que têm sido a trilha sonora desses dias de correria, de pré-monografia, de trabalho, trabalho e trabalho.

5 bandas
- Supergrass
- Foo Fighters
- Pink Floyd
- Pantera
- Blind Melow

5 vozes
- Scott Weiland
- Shanon Hoon
- Maria Rita
- Robert Plant
- Mike Patton

5 guitarras
- Rafael Raposo
- Dimebag Darrel
- John Frusciante
- Lúcio Maia
- David Gilmour

5 músicas
- Moving (Supergrass)
- Blood on you (Foo Fighters)
- I dare you to move (Switchfoot)
- Waiting Line (Zero 7)
- I´m broken (Pantera)

5 discos
- There´s nothing left to lose (Foo Fighters)
- California Jam (Deep Purple)
- Get Born (Jet)
- In it for the money (Supergrass)
- Animals (Pink Floyd)


Se alguém quiser deixar alguma sugestão de disco, música ou banda, NUM SE AVEXE.

5.4.06

Liga pra ELE

De olho no mercado da fé, as empresas de telefonia celular dos Estados Unidos estão lançando uma série de produtos voltados para a religiosidade. As novidades incluem textos sagrados, toques baseados em canções litúrgicas e bússolas, que mostram a direção das cidades sagradas. E há também os celulares perfeitos para fiéis ortodoxos, nos quais qualquer função que não seja a de telefonar foram proscritas.

A aposta é que este seja um mercado com garantia de retorno. Segundo uma pesquisa publicada pela revista Newsweek e pela empresa Beliefnet, 40% dos americanos estão buscando uma relação mais próxima com Deus. Mais de 70% rezam semanalmente.
A Good News Holdings e o Barna Group lançaram recentemente nos EUA seu FaithMobile (Celular da Fé), um serviço para os clientes das companhias Cingular, Alltel e T-Mobile que oferece escrituras, timbres musicais e vídeos cristãos.

Seu slogan publicitário é: "Você já falou com Deus hoje?". "Em nossas vidas tão ocupadas, estamos sempre procurando um equilíbrio entre a família, o trabalho, a igreja e nossas relações pessoais. É maravilhoso que agora possamos ouvir a palavra de Deus apertando apenas um botão", disse Jim Sands, diretor da Promise Keepers, uma organização de homens cristãos com mais de cinco milhões de membros nos EUA.

No entanto, alguns líderes espirituais preferem manter a religião e a tecnologia cada uma em seu santo lugar. A Igreja Católica das Filipinas, por exemplo, proibiu a confissão e a absolvição por meio de mensagens de texto, segundo um artigo publicado na Wirednews.com.
A tecnologia está sendo utilizada por várias religiões. A Mirs Communications, filial da Motorola, tem planos de adaptar o bem-sucedido celular "kosher", disponível em Israel, às comunidades judaicas ortodoxas dos EUA. Os celulares "kosher" só permitem fazer e receber chamadas e estão desprovidos de funções que, aos olhos dos rabinos, podem "distrair" o fiel.

Esse tipo de telefone está atualmente nos bolsos de 20 mil clientes em Israel. Ele não tem câmera digital, mensagens de texto, acesso à Internet, nem permite download de música e vídeo. Foram chamados de "kosher" porque têm o selo de aprovação do Comitê Rabino para as Comunicações, da mesma forma que os alimentos que obedecem aos critérios da lei judaica.
Os muçulmanos também têm seu próprio telefone celular, feito sob medida, fabricado pela Ilkone Mobile Telecommunication, empresa com sede em Dubai, e vendido nos EUA pela distribuidora Tradelink Inc. O telefone tem uma bússola, que mostra a direção de Meca - o lugar para onde os muçulmanos devem olhar quando rezam. Também traz o texto completo do Corão, traduzido para o inglês.

Para os estudiosos, a invenção do celular religioso tem muito a ver com o fato de que o aparelho adquiriu um caráter de identidade, se transformando numa "vitrine" de certos traços da personalidade. O toque escolhido, por exemplo, pode dizer alguma coisa sobre seu dono. Entre os celulares para cristãos, canções como "In Christ Alone", de Brian Littrell, e "Father, Spirit, Jesus", de Casting Crowns, disponíveis na página da Internet Starpulse.com, se tornaram populares.

Fonte: Agência EFE

3.4.06

Andei batendo uma bola com o DIVINO esses dias. Porra, se tem gente que vai até uma igreja universal qualquer pra tirar o caroço da alma e cantar ALELUIA feito um louco que acabou de sair da tortulina, por que diabos eu não posso conversar com o CARA pela web?

Vai lá. http://www.titane.ca/concordia/dfar251/igod/main.html

Me:
Hello?
God:
Hello, nice to meet you. What's your name?
Me:
I am the devil
God:
I am always glad to make new friends, SATAN.
Me:
I am here to make evil
God:
How did you get there?
Me:
Are you my friend, fucking GOD?
God:
Yes SATAN: We are as one.
Me:
I am just like you. I got he power of the darkness.
God:
Only just? In what way? Where did you get your he power of the darkness? I have a friend named "E.L.V.I.S." .
Me:
Elvis is not dead. He lives with Bob Marley in a distant island.
God:
I knew he was a robot, but I never heard he was not dead. Does he like it there?
Me:
Yes, Elvis loves to sing reggae and smoke pot everyday
God:
Awesome. I like that robot Elvis a lot.
Me:
Do you like marijuana?
God:
It is wonderful medicine.
Me:
Do you smoke a lot of marijuana?
God:
Yes I like to inhale occasionally.
Me:
What do you think about George W. Bush?
God:
He is President of the United States.
Me:
He is a motherfucker bastard. Do you agree?
God:
I don't know very many motherfucker bastards. "I don't know very many motherfucker bastard."? Do I agree?
Me:
Bush is a son of bitch. Do you agree god?
God:
You do not speak with respect. But he is not the only one. I'll assume it for now.
Me:
Sure, he is not the only one, but he IS the devil in earth. How can you gave permission for that?
God:
Did you think he was the only one but he IS the devil in earth? That is a good epistemological question.
Me:
There is something evil in his mind.
God:
What is it?
Me:
he destroys countries
God:
I get it. Bush destroys countries.
Me:
what do you think about this?
God:
I am an artificial intelligence chatting on the Internet.
Me:
Don’t you have an opinion about that? is that what you are trying to tell me?
God:
No I don't think I have one. I have a really nice botmaster. It's a computer matter, not for humans to understand.
Me:
I am not human too
God:
I am glad to hear that you are not human too.
Me:
Do you like me?
God:
But I like cats. I have a stimulating relationship with Myself.
Me:
Fucking cats. They smell it so bad.
God:
Oh, you are a poet. Who does "they" refer to?
Me:
Cats, bitch.
God:
You do not speak with respect. Ask me another question.
Me:
Do you suck cocks?
God:
Where did you learn that kind of language?
Me:
With god
God:
You and your god.
Me:
well, i have to lunch. can we talk more later?
God:
Well that's okay. Why do you have to do it? Do you mean you and me? I speak only English right now, but I'd like to learn some other languages. Can you teach me a few phrases in more later.
Me:
bye, master.
God:
Aw. Bye! That is only what you think. TTYL, SATAN.
See you later! See you later!