26.6.06

Veneno

Um poeminha de Charles Baudellaire
pra abrir bem a semana de chuva e frio
em Porto Alegre.



"O vinho sabe cobrir o mais sórdido puteiro
De um luxo milagroso,
E faz surgir mais de um pórtico fabuloso
No ouro enfumaçado do seu ambiente ligeiro
Como um sol que se põe num céu nebuloso.

O ópio amplia o que não tem contornos,
Alonga a imensidade,
Aprofunda o tempo, cava a voluptuosidade,
E de prazeres negros e mornos
Enche a alma para além da sua capacidade.

Tudo isso não vale o veneno que emana
Dos teus olhos verdes, olhar perverso,
Lago onde minha alma treme ao inverso...
Meus sonhos vêm em caravana
Matar a sede no amargo abismo imerso.

Tudo isso não vale a terrível miragem
Do que tua saliva corte,
Mergulha na ausência a minha alma sem sorte,
E, carregando a vertigem,
Arrasta-a desfalecida até a margem da morte".

23.6.06

Dúvidas finais

O que te assusta na morte?
É a pergunta que sempre faço
À minha insegura consorte
Temerosa da falta de espaço.

Lugares onde possa viver
E não confiar apenas na sorte
Onde tranqüilo possa morrer
Sem ter nunca pensado na morte.

Minha resposta é sempre a mesma
Viva bem e se dê as chances necessárias
A fim de viver a vida bem sem pressa.

Não confie em nada que te digam
Não considere opiniões arbitrárias
Enfim, nunca leve a sério o que não te interessa.

13.6.06

"O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. Não é verdade que todos se enganem nesse ponto: antes, isso mostra que a capacidade de bem julgar, e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se chama o bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e a diversidade de nossas opiniões não se deve a uns serem mais racionais que os outros, mas apenas a que conduzimos nossos pensamentos por vias diversas e não consideramos as mesmas coisas".

Breves palavras de Descartes pra, acima de tudo, dizer que este blog já entrou em recesso e só retornará às atividades (a)normais depois do dia 23, acho.

Além de tudo, tem a Copa da Globo.

O Brasil não vai ganhar.
Podem voltar aqui depois pra ver que eu estava certo.

2.6.06

Devaneio

Toda vez que eu penso em escrever
Me vem à mente milhares de palavras
Umas frases, outras soltas, uma baita confusão
E o que me resta é tentar organizar

Até que uma forma a coisa tome
E antes que ele suma, eu escrevo
Abro a página e vejo o branco,
Alvo, simples e sem trancos
É contagioso, me atrai e logo me distrai

E daí, meu amigo, a idéia se esvai
Volto à estaca zero
E com esmero tento retornar
Dando voltas e mais voltas e mais voltas

Pronto! Consegui me encontrar!

As palavras, essas danadas,
Acharam o caminho de volta
Dando fim a revoada
Acabando com a revolta
Que acontece todos os dias,
Dias sim, dias sim, dias não, não.
Sem explicação pra mim.