25.4.07

Ela

Tenho certeza de que ela é a mulher da minha vida.
Ela, a mulher da minha vida tem certeza que eu sou
um grandíssimo mentiroso, e que uma das minhas maiores
falácias é dizer que eu tenho certeza de que ela é a mulher
da minha vida. Meu coração, outrora equiparável ao tamanho
da china, agora parece o vaticano. Apertado e abafado,
dentro uma bota fedorenta e inóspita. Eu tenho certeza de
toda certeza que eu tenho. Raro me engano, e quando acontece
acabo mudando o plano para voltar à antiga certeza de
que tudo vai bem comigo mesmo e com ela, a mulher da minha vida.
Ela quer não querer, lembrar de esquecer o que odeia sentir.
Eu quero morrer, esquecer de lembrar que um dia senti o meu
coração do tamanho da china, sem chineses, sem controle de natalidade,
sem escorpião no espeto. Só amor por ela, a mulher da minha vida.
Ela quer não mais saber de querer lembrar o que tem que esquecer.
Eu não quero mais sentir o que me faz lembrar te querer.
Ela, a mulher da minha vida, tirou o sujeito e o pronome da minha
frase, transformando tudo o que eu sempre quis apenas em VIDA.
Ela quer eu querendo lembrar de sentir o que eu já esqueci por
um dia ter esquecido de lembrar o que eu deveria sentir. E agora
o que resta é VIDA, pela frente, pelos lados e daqui por diante.

23.4.07

Coisas sobre São Paulo que eu não sabia - final

Diferente de Porto Alegre, lá os taxistas possuem um cadastro junto à prefeitura (segundo informações, custa em torno e R$ 50 mil) que funciona da seguinte forma: se você não gostou do atendimento – digamos que o motorista tenha dado sinais de embriaguez e xingou 9 entre 10 carros que passaram por vocês – é só ligar para a prefeitura e dar o nome, prefixo e placa do carro. Pronto. Esse cidadão nunca mais vai dirigir um táxi no Estado de São Paulo, quiçá do Brasil.

Acredito que esta é uma maneira interessante de garantir que apenas pessoas corretas possam exercer uma profissão que está muito baseada na confiança às escuras. Não podemos garantir que as pessoas que tomam táxis não sejam bandidas, mas podemos nos assegurar que aqueles que dirigem táxis sejam pessoas decentes.

E assim se encerra esta primeira série de curiosidades acerca de São Paulo. Espero que elas tenham sido, pra vocês, tão inúteis quanto pareceram ser para mim.

17.4.07

Coisas sobre São Paulo que eu não sabia - vol. II

O hamburguer americano, vendido em lugares chiques como o Fifhties e o General Prime Burguer, é o parente mais próximo do nosso XIS. Custam uma fortuna - um pouco mais caro que o Joe and Leo's (estou esperando o free pass, Fê) - e são pequenos, ao estilo Mac Donald's.

Como sobreviver sem o Xis Calota, Moita, Cavanhas, Speed Lanches, Dolphins e Pica Pau?

16.4.07

Fogo em São Paulo


O primeiro disco do Aerosmith que eu comprei foi Get a Grip, em 1993. Nessa época, estourava na MTV (quando ainda tinha música na programação) os clipes de Cryin’, Livin On The Edge, Crazy e Amazing. Nove entre dez pré-adolescentes sonhavam com a Alicia Silverstone e Liv Tyler. Lembro bem da polêmica criada sobre a foto que estampava a capa do álbum: uma tatuagem com o símbolo da banda sobre a pele de uma vaca. Seria uma montagem ou fizeram mesmo a malvadeza com a Mimosa?

Lendas à parte, a partir desta aquisição passei a perscrutar o passado da banda, descobrindo discos sensacionais, como Toys In The Attic (1975), Permanent Vacation (1987) e Pump (1989), reforçando ainda mais o meu gosto pelo hard rock, iniciado dois anos antes com Skid Row, Guns and Roses e Mr. Big, gostos que eu dividia com a paixão pelas bandas de Seattle. Depois disso cresci, meu cabelo também, virei metaleiro, cortei o cabelo, entrei pra faculdade, saí com uma profissão e nada mudou. O hard rock continuou vivo, porém distante. Pelo menos até o dia 12 de abril de 2007.

Eram quase quatro horas da tarde quando cheguei ao Estádio do Morumbi. Milhares de posers ocupavam as ruas, com calças de couro, cintos de oncinha, argolas gigantes e cabelos armados. Confesso que me senti um corretor de seguros. Entrar no estádio foi rápido, pois uma prima da Cris estava na fila desde as oito da manhã e cedeu um lugarzinho especial (valeu Andressa!). Foi aí que a cobra fumou.

Das cinco da tarde até o início do show do Velvet Revolver, as pessoas não pararam um minuto sequer de se empurrar, se xingar e provocar pequenas confusões. Confesso que esperava mais tranqüilidade, pelo menos antes do show. Ponto negativo para os paulistas. Depois de uma espera de mais de quatro horas no meio do empurra-empurra e de uma rápida chuva, finalmente o Velvet sobe ao palco.

Assistir a Slash e companhia foi uma emoção impossível de descrever em palavras. Saibam, pois, que lágrimas brotaram generosas de meus olhos quando tocaram It’s So Easy. Ao vivo, a banda é tão boa quando em estúdio, com destaque para a presença de palco explosiva, dançante e lasciva de Scott Weiland, que mostrou que tem gogó pra não deixar ninguém com saudade do Axl. Pontos altos do show, além das duas releituras do Guns (a outra foi Mr. Brownstone), foram Fall To Pieces – com o estádio cobrindo a voz do Scott, Big Machine, Sucker Train Blues e Slither. Pontos negativos: a banda teve um mini-palco, montado a frente do set do Aerosmith, o que não diminuiu em nada a performance, mas demonstrou pouco respeito aos monstros do rock que ali estavam; o som estava embolado, prejudicando principalmente o guitarrista Dave Kushner; a escolha duvidosa da banda de não tocar nenhuma música do Stone Temple Pilots, que certamente agradaria a alguns milhares de roqueiros presentes. O saldo foi um show eletrizante, pululante e principalmente emocionante.

Em pouco mais de trinta minutos estava preparado o circo para as putas velhas do Aerosmith subirem ao palco. E fazendo jus à fama de incendiários, a banda lançou chamas no Morumbi com um início arrebatador, emendando Love In A Elevator, Toys In The Attic, Dude (looks like a lady) e Fallin’ In Love. Daí pra frente, foi uma sucessão de clássicos que arrancaram lágrimas até um ogro cabeludo e barbudo, de dois metros de altura, com uma camiseta do Pantera ao meu lado, ao som de I Don’t Want To Miss A Thing.

Steven Tyler mostrou que, mesmo aos 60 anos, continua imbatível na presença de palco, no carisma e na voz, que parece não ter sofrido a ação dos 30 anos de carreira(s). Falou com o público, sorriu, cuspiu e pulou como um garoto. Joe Perry destilou toda sua vertente de blues com solos fantásticos, cabelos esvoaçantes (graças aos enormes ventiladores posicionados estrategicamente pelo palco) e a velha atitude rock and roll, de espancar a guitarra e se jogar sobre a bateria. Juntos, mostraram que continuam sendo uma das melhores combinações que o rock já fez – ou que fazem rock.

Os pontos negativos continuaram sendo o som, que parecia mal equalizado, e uma estrutura de palco que não era nem parente próxima dos grandes shows que nos acostumamos a ver ao longo dos anos, em países mais privilegiados.

O saldo total da noite? Uma apresentação inesquecível das duas bandas, um público satisfeito e muita dor no corpo, mal-tratado pela espera, pela chuva, pela sede, pelo empurra-empurra e por toda a emoção incontida e esbravejada aos pulos durante mais de três horas de puro hard rock.

Mais uma resolução muito importante: show no Morumbi, nunca mais. Nota dez para as bandas, ZERO para a organização do evento, que deixou o público sem água por mais de uma hora. E mais um ZERO para os fãs (não todos, mas a grande maioria), que não sabem se comportar e que confundem atitude rock and roll com babaquice e arrogância.

E que venha o Foo Fighters, The Who e Guns and Roses.

12.4.07

Coisas sobre São Paulo que eu não sabia - vol.1

Aqui tu podes usar colírio em qualquer lugar, a qualquer hora, que ninguém vai te chamar de maconheiro. A poluição realmente irrita as córneas.

11.4.07

Eu sou paranóico e eu também

Até que ponto as pessoas se preocupam com aquilo que está a sua volta? Pare para olhar agora mesmo. Se você não estiver em casa, sentado confortavelmente no banheiro ou diante do seu computador no quarto vazio, qual a probabilidade de estar completamente sozinho? Quem vive, respira, olha, escuta, pensa, teoriza, conclui, emana energia, positiva ou negativa. Até que ponto essas energias influenciam na concentração de alguém? Até que ponto um sorriso ou uma cara feia passam imperceptíveis pelos nossos olhos? Paranóia? Sim, que nóia.

9.4.07

O País da piada pronta - parte I



Lembro bem que não muito tempo atrás as matérias sobre o turismo sexual no Brasil recheavam os editoriais dos jornais nacionais, bradando aos quatro ventos o absurdo da situação, da exploração, das condições de vida das mulheres e meninas que se sujeitavam à prostituição perante a turba de gringos que vêm ao país ara desfrutar das praias, das caipirinhas e das curvas bem brasileiras.

Pois bem, não é que um dia desses, daqueles chuvosos e que não se tem nada melhor para fazer, assistindo ao Jornal da Band, me deparo com a seguinte chamada:

- Notícias do PAN: o governo do Estado do Rio de Janeiro vai oferecer cursos de inglês para prostitutas.

Mas olha só, onde foi parar todo aquele discurso conservador que pregava os horrores da prostituição sendo usada como item turístico do país? Nada contra as “tias”, até acho que elas precisam de profissionalização, afinal de contas, não é um dos mais antigos ofícios da humanidade? Mas assim? Na cara dura?

Vamos aos fatos. Imagine só a primeira aula; a professora, cafetina de carreira internacional, poliglota, de inglês fluente, ensina às ávidas alunas o bê-á-bá do business fucking english:

- PUT ME HARDER, YOUR KINKY BOY. Please, girls, repeat.

- CUM ON MY FACE, YOU SMART PIGGY. Please, girls, repeat.

Lições de lascívia à parte, fico pensando quão justa é a imagem que o mundo guarda do Brasil, de que aqui só tem carnaval, mulatas, caipirinhas, Amazônia e futebol. Este projeto do governo carioca, por mais altruísta que queira parecer, é uma piada de muitíssimo bom gosto para aqueles que, como eu e, provavelmente, como você, observam de camarote as patetices que nossos políticos nunca cansam de fazer.

Espero que o PAN seja um sucesso e que os gringos se divirtam a valer com nossas “meninas”, que vão se esforçar ao máximo para exercitar a língua.

Valeu Nêgo B, pela colaboração nas traduções.

2.4.07

Queratina?

Estava perambulando pelo supermercado em um dia desses quando encontrei uma amiga no setor de higiene pessoal. Notei que ela estava com várias marcas de xampu na mão, parecendo bastante indecisa quanto ao que ela levaria para casa. Me aproximei e cumprimentei-a com um beijo no rosto. Mal haviam sido trocadas as saudações e ela me dispara, de supetão, a pergunta que daria a razão de existir deste texto:

- Tu sabia que a queratina que tem nestes xampus vem das baratas?

Putz, não sabia. Na verdade, nunca cheguei a pensar da onde vem a famosa queratina, que garante muito mais vida aos cabelos. Mas diante de tamanha perplexidade minha ela explicou que é a queratina que faz das baratas bichos tão resistentes. De um ponto de vista mais pragmático, todo mundo passa meleca de barata na cabeça pra ficar com o cabelo bonitaço.

Depois disso voltei pra casa pensando seriamente na possibilidade de muitas, muitas pessoas passarem meleca de barata na cabeça. Todo mundo sabe, ou deveria saber, quando falamos em baratas, que no caso de uma catástrofe nuclear, elas seriam as únicas sobreviventes. Pois bem, depois de um tanto elas adquiririam inteligência suficiente para arquitetar um plano de dominar a raça humana, afinal de contas, todos parecem querer isso, não?

Sabendo que muitas pessoas passam sua meleca na cabeça, as baratas começariam uma série de pesquisas para desenvolver um vírus não letal que seria disseminada através da queratina. Este vírus, transmitido pelo xampu, transformaria as pessoas em semi-baratas, dando crédito à metamorfose de Franz Kafka. Haveriam grandes campanhas publicitárias para instigar o uso dos xampus a base de queratina, as pessoas comprariam mais e mais, desenfreadamente, pois um dos sintomas do vírus seria o ato de consumo de todos os produtos a base de queratina produzido pelas baratas.

Chegaria um ponto que as baratas formariam um império, haveria uma grande barata rainha que centralizaria todo o poder e informação do império, o povo seria servo de suas vontades e a humanidade estaria, definitivamente perdida, pois uma vez que a queratina fizesse parte do dna humano, elas poderiam iniciar sucessivos ataques nucleares para exterminar a parcela da raça humana que não estivesse sob seu domínio, dando o pontapé que faltava para uma nova era, suja e melequenta, a base de queratina, e ERA DAS BARATAS. Aposto que Kafka nunca pensou nisso. E eu, diante de tantas possibilidades, vou tratar de raspar minha cabeça e comprar xampu neutro para minha família.