22.6.07

Nada pode ser maior


quando o grêmio sucumbiu à força tática e técnica do boca, em buenos aires, pensei cá com meus botões: FODEU. como bom gremista, nunca duvidei da capacidade de reação do meu time que, nos últimos dois anos, mostrou que a superação e a raça podem ser decisivos em qualquer situação adversa. pois bem, desta vez não funcionou. contra uma bombonera lotada, o tricolor caiu. o pior de tudo? o boca ganhou sem esforço, calcado na qualidade técnica de craques como o Riquelme, Palacio, entre outros.

faltando uma semana para a final, assisti à insólita manifestação de credulidade por parte da maioria dos gremistas. eu quis acreditar, como meus irmãos, que ia dar. teorizei sobre a física quântica do
pensamento positivo, mas sabia, no fundo, que estavámos, a nação tricolor, diante de uma das melhores esquadrilhas da América Latina. Vai ser foda.

alheio ao meu ceticismo, comprei, finalmente, uma camiseta do grêmio (até então exibia orgulhoso minha camiseta comprada 12 anos atrás, patrocínio da Coca-Cola, número 9, na época correspondente ao Nildo, grande centroavante).

durante toda a semana li e ouvi falar sobre a imortalidade tricolor. ouvi colorados e outros antipatizantes do grêmio criticarem veemente a prepotência de cartolas como o Paulo Pelaipe, que já deu como certo o confronto contra o Milan. em nenhum momento questionei minha paixão pelo tricolor, mas comecei a repensar alguns conceitos da torcida, que se orgulha de bradar canções em espanhol, a alma castelhana.

veio a final e, afinal, as deficiências técnicas vieram à tona. quem foi o infame que sugeriu a contratação do Tuta? atacante que não faz gol não me serve. amoroso? se é pra ter jogada de marketing, que contratem o marcelo pires ou o nizan guanaes. garanto que o resultado seriam muito melhor. o patrício é esforçado, peitou o beltrame na final contra o náutico, tem raça mas é fraco. é jogador de time de interior. ramón? esse deve fazer uma meia com algum dirigente.

o maior mérito de tudo isso é do mano menezes. primeiro por ter conseguido tirar um time CAPENGA da segunda divisão. segundo por ter levado este time até a terceira colocação do brasileirão no ano passado e ao bicampeonato gaúcho. e finalmente por ter conseguido a façanha de ter chegado a esta final, apesar de tutas e ramóns.

levamos um chocolate na última quarta em pleno olímpico. fiquei triste, mas sabia que era praticamente impossível. fiz um esforço epopéico para crer na vitória, e realmente cheguei a acreditar. mas quando se passaram 30 minutos do primeiro tempo e nada, já comecei a me preparar para ouvir os fogos que os colorados lançariam aos céus em questão de pouco tempo.

de lição, espero que esta direção saiba reforçar o time para fazer bonito no brasileiro, que o mano menezes dê continuidade ao excelente trabalho que está fazendo, que parem com esta bobagem
de alma castelhana e que em 2008 o grêmio venha com força total para voltar a ser o grande campeão que a minha geração se acostumou a ver. por hora, é desengasgar esse vice contra o inter dentro do beira-lagoa.

18.6.07

My Guitar Gently Kills Your Party
















passei tanto tempo
pensando em ter uma guitarra
pra fluir um sentimento
que fosse mais que simples farra

toquei músicas de outrem
fiz dançar ao som legal
e em bailes de ninguém
me sentia mar sem sal

e um dia me surgiu
sem avisar nem planejar
e ganhou meu coração
que num instante pensei fosse rebentar

e a incerteza diluiu
mandei às favas o bailão
para viver com minha guitarra
uma vida sem ilusão

pés no chão e acordes limpos
cabeça nas nuvens e distorção
sustenta este plácido timbre
vivendo o bom de não ser bicão.

11.6.07

Chuva, ócio, tédio e chuva.

enquanto vejo a chuva cair pela janela, tento em vão escrever alguma coisa, colocar uma idéia que seja no papel, numa desesperada busca por amenizar a monótona melancolia de dias a olhar a chuva cair pela janela. entre o barulho dos raios escuto as batidas irregulares do meu coração, perfeitamente compassadas com as batidas de meu pé ressonando pelo chão. a angústia é rapidamente percebida pelo gato preguiçoso de minha mãe, que espreita pela corredor, atento aos meus movimentos (o gato e a minha mãe). não bastasse estes guardiões informais da minha inabstrata clausura, a chuva castigava torrencialmente a terra e, segundo o noticiario, em muitos lugares do mundo. já fazem 4 dias que chove sem parar e eu começo a sentir a falta da nicotina em meu sangue. 4 dias sem tragar uma deliciosa fumaça de marlboro, sem sentir a brasa ardendo entre os meus dedos. oh céus, párem de trabalhar. ora bolas, é feriado, corpus christi, dêem um tempo aos que ainda habitam esta terra. mas então, não será esta sequencia pluviometrica um sinal de que algo não vai lá muito bem? essas histórias de aquecimento global eu já imaginava que teriam efeito, mas não que fosse tão logo. a que tipo de realidade estará fadada a humanidade? a impossibilidade de circular livremente pelas ruas será uma constante? penso que talvez a fúria das águas que derramam não seja o único motivo. haverá o dia em que as pessoas privadas das ferramentas básicas de sobrevivência tornar-se-ão hordas famintas e degeneradas, esteticamente amorais e impulsionadas unicamente pelo instinto básico de auto-preservação. as moradias serão bases de operações sociais, da onde alguém poderá ir normalmente para o emprego, de carro ou de bonde, vestindo um caro terno ou ousando exóticos perfumes através do Second Life. não me parece mais tão absurdo a irrealidade desconstruída pelo filme a Matrix. não posso sair de casa. a tempestada atingiu uma antena próxima à minha casa e faz 2 dias que estou sem luz. meus cigarros acabaram e eu assisto, decadente, ao mundo sendo enxugado de seus pecados. estou sóbrio de minha faculdades quando desejava estar absorto em devaneios insólitos, longe do cinza que insiste em predominar no céu e nas (poucas) cores que entram pela minha janela. será que deveria eu me recolher a insignificância de uma existência sem sentido, atirado aos lençóis amanhecidos e em meio a lembranças de uma infância que já cansei de lembrar que eu esqueci? ou devo me lançar a incerteza e aos riscos de um passeio pela cidade-caos, mergulhada na resposta do mundo contra o homem? quantas pessoas desistem? quem será que enfrenta a chuva para arejar a cabeça? devo esquecer os riscos? enfrentar a barreira montada pelos guardiões do tédio envelhecido?

oba, achei uma garrafa de vinho pela metade.

5.6.07

A Espiral da Informação (ou o Cubo do Fuxico)

Suponhamos que eu tenha uma informação, uma das grandes. Reúno seis pessoas e dou o mesmo recado para todas. Depois, chamo cada uma delas e adiciono uma pequena informação àquela que transmiti para todos, só que diferentes entre si. O que acontecerá quando estas seis pessoas começarem a trocar figurinhas umas com as outras?

A e B se juntam, cada um com a informação principal e mais aquela que cada um recebeu separadamente de mim. Não só a emissão da mensagem será afetada por isso como também a interpretação (recepção) de cada um. Neste primeiro caso teremos:

- duas informações iniciais (resultantes da soma da principal com aquilo que eu acrescentei a cada um separadamente);

- duas interpretações diferentes (baseadas nas informações-extra de cada um);

- um consenso entre as duas partes (por mais incerto que ele seja para cada um).

Dando seguimento, agora junte C com D. Faça o mesmo juntando E com F. Vá somando as informações, as interpretações e os consensos. Depois cruza A com C, B com E, D com F. E assim sucessivamente, até que todos tenham se falado e trocado informações, gerando novas interpretações, novas interpretações e diversos consensos diferentes.

Assim, aquela informação inicial e todas as outras que eu passei separadamente deixam de existir, para dar lugar aos resultados das somas das mutações entre informações e interpretações geradas pelos cruzamentos entre todos os elementos do grupo de seis pessoas.

Onde eu quero chegar com isso?

Simples, pense bem no que e como você fala antes de sair falando por aí. Daqui a pouco a tua vida vira um enorme telefone sem fio e tu nem vai saber de onde veio aquela Kombi cheia de mascarados que te seqüestram e te jogam dentro de um saco preto na Lagoa dos Patos.