5.11.07

Zefeu contra a sinaleira

No post de hoje vamos conhecer a história de Zefeu, um barnabé que passou em um concurso para técnico bancário e sonha em ter um mundinho repleto de regalias que seus pais não puderam lhe dar. Zefeu mora em um apartamento alugado de um quarto, com box mas sem área de serviço, na zona norte da cidade. Depois de um ano no banco, comprou um monza 91 e mandou colocar insulfilme bem escuro, para ter mais privacidade e segurança. Dentro de seu carro, Zefeu sentia-se em casa, sozinho e perfeitamente confortável em seus bancos de couro recauchutados. Trabalhava na zona sul, o que significa que precisa atravessar a cidade para ir de sua casa até a agência.

Quando o trânsito está caótico, costuma ligar seu rádio no talo, invariavelmente apelando para cds do Pantera ou Cannibal Corpse. Sim, Zefeu é um metaleiro, selvagem e conformado, em seu monza preto 91. Ensaiava toda terça, depois do trabalho, em um estúdio do centro da cidade, o que significa que uma vez por semana carregava sua guitarra Ibanez com micro-afinação no porta-malas.

Na última terça-feira, assim como todas as outras do ano, Zefeu saiu da agência, que ficava na zona sul, pegou seu monza 91 e sua Ibanez com micro-afinação e foi até o estúdio que ficava no centro para ensaiar. Depois, tomou duas ou oito cervejas com seus parceiros de banda, entre piadas e baforadas de Carlton Azul. Despediu-se dos parceiros de banda, colocou sua Ibanez com micro-afinação no porta-malas e pegou o caminho até a zona norte. Contabilizando, havia gasto quase tudo dos 30 reais que sacara mais cedo. 10 reais foram para colocar gasolina, 7 reais para o estúdio e outros 8 reais para pagar a cerveja. Sobraram míseros cinco mangos e algumas moedas, que acabara deixando com o flanela que ficava em frente ao estúdio.

Com apenas 5 reais no bolso e nenhuma moeda, Zefeu e o monza 91 seguiram pelas vias públicas calmamente, até que pararam em uma sinaleira, perto das onze da noite. Logo que o monza 91 parou, um rapaz franzino e de pés no chão saltou prontamente de trás de um poste, armado com um mini-rodo, que tratou rapidamente de postar, ameacadoramente, contra o pára-brisas.

- Não, hoje não! interviu Zefeu, apressado em fazer o rapaz desistir de limpar seu pára-brisa.

- Ô tio, então me dá um real aí que eu tô com fome e ainda quero tomar uma cachaça hoje.

Abre aqui um pré-âmbulo para analisar a presenta situação: Zefeu não era tio dele. Tampouco dispunha de um real para ajudá-lo a comer e a tomar uma cachaça depois. Além disso, não parecia justo que Zefeu tivesse que trabalhar duro como técnico bancário para sustentar seu monza 91, seu apartamento alugado de um quarto na zona norte, sua guitarra Ibanez com micro-afinação, seus ensaios, seus almoços e jantares a base de massa pré-cozida, seus cigarros e suas duas ou oito cervejas por noite, enquanto aquele franzino garoto não precisava fazer absolutamente nada para ganhar um ou mais reais.

- Cara, não tenho nada hoje. Fica pra próxima.

- Porra, tio. Como é que o senhor me diz que não tem nada? Não acredito que não tenha nenhuma moedinha aí dentro dessa nave. Dá uma procurada aí que tem.

- Cara, eu REALMENTE não tenho nada de moeda. Fica pra próxima, ok?

- Bah tio, que cara-de-pau, hein? Eu tô aqui pedindo na boa, me consegue um real então!!

Zefeu, irritado e devidamente embalado pelas duas ou oito cervejas que acabara de beber com seus parceiros de banda, resolveu argumentar amigavelmente com o franzino.

- PORRA CARA, POR QUE DIABOS TU ACHA QUE EU TENHO OBRIGAÇÃO DE TE DAR UM REAL? TU TÁ AQUI SEM FAZER PORRA NENHUMA, PROVAVELMENTE PASSA OS DIAS SEM FAZER PORRA NENHUMA, NÃO É ALEIJADO E NEM NADA, EU É QUE TE PERGUNTO: COMO É QUE TU NÃO TEM UM EMPREGO, PORRA???

O franzino olhou para Zefeu, puxou uma arma e deu três tiros em sequência. Abriu a porta do monza 91, jogou o corpo de Zefeu para fora e entrou.