17.3.08

Live and let die

Desde que ouvi essa música pela primeira vez penso em possíveis significados reais para esta frase: viva e deixe morrer. A primeira conclusão a que eu cheguei é que existe mais do que apenas uma forma de interpretá-la (viva a subjetividade do rock and roll). Porém hoje, enquanto passava os olhos pelas notícias do dia, me deparei com a notícia de uma mulher francesa que luta para poder morrer dignamente.

Chantal Sébire, uma dona de casa de 52 anos, é vítima de um raríssimo câncer de face, o estesioneuroblastomia. O resultado é terrível, como vocês podem conferir nas fotos. Segundo a matéria, ela enviou uma carta ao próprio presidente francês implorando para que a justiça autorizasse a eutanásia. É claro que, em uma sociedade conservadora e hipócrita, isso é impossível, logo o pedido foi pesarosamente negado.



Viva e deixe morrer. De novo essa frase. E nunca ela fez tanto sentido para mim. Me questiono, do alto da minha insignificância, sobre o real valor de viver. Vale a pena continuar vivendo, mesmo sabendo que o seu destino é apenas dor? Em uma cama de hospital, sem poder conversar com os amigos, assistir a um filme ou ler um livro? Sem poder comer um sorvete e sentir o gosto do chocolate? Vale a pena viver para não ver seus filhos e netos crescerem? Vale a pena viver apenas para não morrer?

Não será hipocrisia daqueles que estão "muito bem, obrigado" negar um pedido sofrido de alguém que simplesmente não tem mais perspectiva de levar uma vida normal? Os mais conservadores dizem que apenas Deus tem o direito de tirar uma vida. Mas caberá também a Deus confortar àqueles que nem podem mais dizer que vivem?

Todos os homens morrem, porém nem todos vivem de verdade.
Que a França deixa que Chantal possa decidir sobre a sua vida.

Viva e deixe morrer nunca fez tanto sentido.

10.3.08

Academia do Metal

Reserve um local fechado. Abra as portas aos discípulos. Idade não é pré-requisito, o que importa é gostar da matéria. Reúna todos em frente aos púlpitos. Deixe-os cantar enquanto esperam pelos mestres. Rasgue-se. Pule. Grite. Cante. Chore. Enfim, receba os mestres da melhor forma possível e prepare-se para ouvir as mais importantes lições sobre heavy metal, rock, carisma, competência, longevidade e tudo mais que ajuda a fazer do Iron Maiden uma das maiores bandas de todos os tempos (sim, sem nenhum rótulo, isso não se faz necessário).

Depois de 15 anos, a Donzela de Ferro voltou aos pampas para um show memorável. Memórias, aliás, não faltaram neste dia em que o sol resolveu brilhar forte e quente como há dias não fazia. Cheguei nos arredores do gigantinho por volta das 16h30 portanto apenas uma garrafa de H20, uma Caninha Bonanza e um pacote de Passatempo, como nos velhos tempos. Na fila, encontrei amigos de infância metaleira, muitos deles (a maioria) ex-cabeludos, assim como eu. A gente cresce. A fila cresce. E mais e mais pessoas chegavam ao gigantinho, enquanto a Ipanema disparava uma coletânea pra lá de pertinente de clássicos do Maiden. Tudo festa. Pelo menos até entrar no gigantinho(?)



15 mil pessoas pra lá de suadas se apertavam, se empurravam e se xingavam em um espaço que não permitia nem que se pudesse reclamar, não havia ar para encher os pulmões. Terror total. Levamos algum tempo para encontrar, de pé na arquibancada, um lugar que permitisse assistir ao show de forma satisfatória, pelo menos em termos de visão. Terror total. O empurra-empurra só diminuiu quando o show começou.

A emoção foi algo indescritível. Chorei feito criança aos acordes de Aces High e 2 Minutes to Midnight. O petardo continuou com The Trooper, Wasted Years e Revelations. Minha voz acabou em The Number of the Beast. Meu ar também. O resto do show me dividi entre tentar respirar e me manter de pé, já que o empurra-empurra não dava trégua. Lá pelas tantas, alguém arremessou um telefone ao palco e Bruce fingiu conversar com sua mãe. Hilário. O momento máximo foi a entrada do Eddie (do disco Somewhere in Time), ao som de, é claro, Iron Maiden.
O clássico de 13 minutos, Rime of the Ancient Mariner, foi apoteótico. O bis contou com Moonchild, The Clairvoyant e, por fim, Hallowed be thy Name.



Ufa! Depois de muita dificuldade, consegui, finalmente, respirar. E beber água. Foram 2 litros em menos de 10 minutos, pois durante o show NINGUÉM passou pra vender água. Invariavelmente, uma Nova Schin quente.

Se me pedisse para resumir o show em uma palavra, eu diria: DESUMANO. Mas eu sobrevivi, através de um mar de loucuras, como um estranho em uma terra estranha, realizando meus sonhos infinitos de ver o Maiden em Porto Alegre.

Bruce, Steve, Janick, Adrian, Dave e Nicko: valeu!
Opinião Produtora: vai tomar no cu.