O primeiro disco do Aerosmith que eu comprei foi Get a Grip, em 1993. Nessa época, estourava na MTV (quando ainda tinha música na programação) os clipes de Cryin’, Livin On The Edge, Crazy e Amazing. Nove entre dez pré-adolescentes sonhavam com a Alicia Silverstone e Liv Tyler. Lembro bem da polêmica criada sobre a foto que estampava a capa do álbum: uma tatuagem com o símbolo da banda sobre a pele de uma vaca. Seria uma montagem ou fizeram mesmo a malvadeza com a Mimosa?
Lendas à parte, a partir desta aquisição passei a perscrutar o passado da banda, descobrindo discos sensacionais, como Toys In The Attic (1975), Permanent Vacation (1987) e Pump (1989), reforçando ainda mais o meu gosto pelo hard rock, iniciado dois anos antes com Skid Row, Guns and Roses e Mr. Big, gostos que eu dividia com a paixão pelas bandas de Seattle. Depois disso cresci, meu cabelo também, virei metaleiro, cortei o cabelo, entrei pra faculdade, saí com uma profissão e nada mudou. O hard rock continuou vivo, porém distante. Pelo menos até o dia 12 de abril de 2007.
Eram quase quatro horas da tarde quando cheguei ao Estádio do Morumbi. Milhares de posers ocupavam as ruas, com calças de couro, cintos de oncinha, argolas gigantes e cabelos armados. Confesso que me senti um corretor de seguros. Entrar no estádio foi rápido, pois uma prima da Cris estava na fila desde as oito da manhã e cedeu um lugarzinho especial (valeu Andressa!). Foi aí que a cobra fumou.
Das cinco da tarde até o início do show do Velvet Revolver, as pessoas não pararam um minuto sequer de se empurrar, se xingar e provocar pequenas confusões. Confesso que esperava mais tranqüilidade, pelo menos antes do show. Ponto negativo para os paulistas. Depois de uma espera de mais de quatro horas no meio do empurra-empurra e de uma rápida chuva, finalmente o Velvet sobe ao palco.
Assistir a Slash e companhia foi uma emoção impossível de descrever em palavras. Saibam, pois, que lágrimas brotaram generosas de meus olhos quando tocaram It’s So Easy. Ao vivo, a banda é tão boa quando em estúdio, com destaque para a presença de palco explosiva, dançante e lasciva de Scott Weiland, que mostrou que tem gogó pra não deixar ninguém com saudade do Axl. Pontos altos do show, além das duas releituras do Guns (a outra foi Mr. Brownstone), foram Fall To Pieces – com o estádio cobrindo a voz do Scott, Big Machine, Sucker Train Blues e Slither. Pontos negativos: a banda teve um mini-palco, montado a frente do set do Aerosmith, o que não diminuiu em nada a performance, mas demonstrou pouco respeito aos monstros do rock que ali estavam; o som estava embolado, prejudicando principalmente o guitarrista Dave Kushner; a escolha duvidosa da banda de não tocar nenhuma música do Stone Temple Pilots, que certamente agradaria a alguns milhares de roqueiros presentes. O saldo foi um show eletrizante, pululante e principalmente emocionante.
Em pouco mais de trinta minutos estava preparado o circo para as putas velhas do Aerosmith subirem ao palco. E fazendo jus à fama de incendiários, a banda lançou chamas no Morumbi com um início arrebatador, emendando Love In A Elevator, Toys In The Attic, Dude (looks like a lady) e Fallin’ In Love. Daí pra frente, foi uma sucessão de clássicos que arrancaram lágrimas até um ogro cabeludo e barbudo, de dois metros de altura, com uma camiseta do Pantera ao meu lado, ao som de I Don’t Want To Miss A Thing.
Steven Tyler mostrou que, mesmo aos 60 anos, continua imbatível na presença de palco, no carisma e na voz, que parece não ter sofrido a ação dos 30 anos de carreira(s). Falou com o público, sorriu, cuspiu e pulou como um garoto. Joe Perry destilou toda sua vertente de blues com solos fantásticos, cabelos esvoaçantes (graças aos enormes ventiladores posicionados estrategicamente pelo palco) e a velha atitude rock and roll, de espancar a guitarra e se jogar sobre a bateria. Juntos, mostraram que continuam sendo uma das melhores combinações que o rock já fez – ou que fazem rock.
Os pontos negativos continuaram sendo o som, que parecia mal equalizado, e uma estrutura de palco que não era nem parente próxima dos grandes shows que nos acostumamos a ver ao longo dos anos, em países mais privilegiados.
O saldo total da noite? Uma apresentação inesquecível das duas bandas, um público satisfeito e muita dor no corpo, mal-tratado pela espera, pela chuva, pela sede, pelo empurra-empurra e por toda a emoção incontida e esbravejada aos pulos durante mais de três horas de puro hard rock.
Mais uma resolução muito importante: show no Morumbi, nunca mais. Nota dez para as bandas, ZERO para a organização do evento, que deixou o público sem água por mais de uma hora. E mais um ZERO para os fãs (não todos, mas a grande maioria), que não sabem se comportar e que confundem atitude rock and roll com babaquice e arrogância.
E que venha o Foo Fighters, The Who e Guns and Roses.
9 comentários:
Adorei o texto, adorei a companhia de vocês no show, AMEI o show, mas confesso que tenho uma reclamação a fazer: cadê o texto sobre o Nelson, hein? Pô, o cara merece uma homenagem! Beijos, Poserildo
Ah, adicionei o teu link no meu blog e atualizei-o-o. Vai lá ver, molho.
o seu nelson merece um post só pra ele.
adorei ser esmagado contigo, milho.
bjs
Otemo texto!
Otemo show!
É bom ver brotar a atitude rock and roll desse corpo novamente!
Mas nada de calça de lycra com estampa de onça, ok?
Se tu não usou calça de lycra com estampa de onça, não aproveitou nem 50% do show... ;)
eu estava nu, sem nenhum outra alternativa.
Que inveja SADIA de ti, cara.
Mas nada que nossa BANDA COVER DE BON JOVI não possa superar.
tb ouvi mto aero na adolescencia, confesso. me entristeço pois ter perdido possivelmente a última chance de ver a banda ao vivo, mesmo sabendo que talvez fosse me decepcionar um pouco. o baixista não tava, né? enfim, deve ter sido massa de qq jeito.
ah, e não era tattoo na vaca, era um piercing. ou eram os 2??? heheheh. adoro esse disco.
egs, consegui roubar uma peruca para nossa primeira apresentação.
marina, acho que eram os dois mesmo. que maldade, né? e o baixista foi, mesmo meio paradão estava lá, firme e forte.
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