13.7.07

365 dias de rock

sexta-feira 13. dia do rock. um frio da porra que fica um pouco menos insuportável quando o sol tímido dá as caras, mas quase sempre encoberto pelas nuvens cinzas que já se tornaram companheiras fiéis do inverno em porto alegre. dia do rock. com essa garoa cinzenta bem que eu poderia estar em londres, com uma guitarra de 30 libras debaixo do braço indo fazer um som com meus amigos em algum boteco.

dia do rock e são 7h45 quando eu coloco os braços pra fora das cobertas e sinto a atmosfera gélida me impelir a ficar mais alguns 5 ou 40 minutos deitado.
mais tarde, sentado em frente ao computador depois de um dia de trabalho razoável, penso em escrever alguma coisa sobre a importância do rock na minha vida. ponho pra tocar o disco III do led zeppelin e me regozijo em silêncio com immigrant song. tento lembrar do meu primeiro contato com o rock. acho que foi por volta de 1986. eu, com pouco mais de cinco anos na época, não era dono do meu ouvido, estando sujeito ao gosto dos meus pais (e sujeito às conseqüências que más influências musicais poderiam causar anos mais tarde). lembro que era verão, férias da escola, e eu passaria três longos meses na praia, longe da cidade, perto do mar, respirando ar puro. até hoje gosto disso.

a viagem era boa, cerca de seis horas até nossa casa em garopaba. naquele tempo se ouvia fitas K7. e as que meus pais levavam em uma bolsa azul eram pra mim um tesouro a ser descoberto por meus ouvidos tenros e ainda ingênuos. lembro até que às vezes a gente ouvia a mesma fita duas, três vezes, pois não eram muitas (ou eram e meus pais gostavam muito daquelas mesmas que sempre escutavam).


"say, say, say what you want but don't play games with my affection" era o que cantavam paul mccartney e michael jackson, indo e voltando da praia. levei muitos anos para descobrir a música novamente e voltar a escutá-la duas, três vezes por dia. a fita era do paul e eu nem sabia o que era beatles. meu avô, algum tempo depois viria a me presentar com dois discos, o white album e um compacto do yellow submarine.

antes de completar sete anos eu já falava pros meus amigos sobre beatles quando todo mundo só falava de jaspion e comandos em ação.
ganhei uma vitrola que era da minha mãe. ela era marrom e mais parecia uma maleta. quando passeava com ela ou com meu avô pelo centro da cidade, sempre pedia pra ganhar algum disco, mas como não sabia escolher, contei com a sorte e acabei sendo presenteado com vinis de cat stevens, tracy chapman, pink floyd, joni mitchell e mais paul mccartney. assim, fui desenvolvendo meu gosto pela música, ouvindo os pouco mais de dez discos que possuía à exaustão (e possivelmente provocando um grande arrependimento nos meus pais, que escutavam tudo comigo, todos os dias, toda hora, de novo de novo e de novo).

muitos anos mais tarde descobri sons mais pesados, como black sabbath, iron maiden, slade, led zeppelin. tinha doze anos quando me dei conta que já era tarde demais para voltar atrás: estava completamente apaixonado pelo som das guitarras distorcidas, os vocais agudos e rasgados, a bateria alucinada e marcante. e com as aulas de violão, o meu envolvimento com a música só foi crescendo e crescendo. e em uma época em que a grande maioria dos meus colegas escutava eldorado e achava legal ser pagodeiro, eu esperava toda semana pra ouvir arrasa-quarteirão na ipanema, fúria metal na mtv, levava walkman em passeios (para não ser contaminado por molejo, só pra contrariar e outras porcarias do gênero. desculpe-me quem gosta ou se ofendo alguém, mas não existe melhor adjetivo que merda para definir o pagode que estourou na década de 90, e que não tem nada a ver com samba).

o meu primeiro dia do rock foi a distante tarde daquele verão de 86 em que eu ouvi paul mccartney pela primeira na vida e, desde então, todos os meus dias são assim. sabe quando alguém diz "ah, mas é um dia como qualquer outro"? é verdade. o dia do rock é como qualquer outro, pois não há uma variável em minha personalidade que me permita viver, respirar, ouvir, comer de outra forma.


obrigado paul, michael, john, george, robert, david, roger, cat (ou yusuf aslam), tracy, joni e mais uma galera que fez, faz e continua fazendo a trilha sonora da minha vida um sucesso de audiência.


o dia de rock é todo dia. e viva a porra do rock, seus motherfuckers.

4 comentários:

Anônimo disse...

FALA MEREU!
Gostei, como sempre, do post!
"fazendo a trilha sonora da minha vida um sucesso de audiência"...
Sempre com frases marcantes e inteligentes!! MASAAH GAROTO!
E o terça-insana? Sai ou nao sai??
SAI NEH!
BEIJAOOOOOOOO!

Anônimo disse...

Leo,
sua descrição gélida de Porto Alegre encheu meu coração ainda mais de saudades!
Saudades de tudo aí, até do frio que aqui (e só aqui) chamo de gostoso.
Tô tão saudosista e cada vez mais bairrista... hahahahah! Não, bairrista não!
Na próxima vinda a SP, promoto que furo a agenda, seja o que for, mas arrumo um tempo pra gente sentar num boteco e fazer uma sessão nostalgia.
Beijo-tchau!

Bela Figueiredo disse...

só posso dizer: ou sgt. pepper's lonely hearts club ou revolver. não tem cinza nessa hirória - é p ou b. ah, arrasou no tratado! ;)

adriane disse...

oi guri! adorei teu texto. tu já ouviu o cd dos beatles - versões para o Cirque de Soleil? Bá, sensacional. Beijocas da adri.