3.7.07

Uma boa razão para largar o cigarro

acendo um cigarro ao sair da agência. o sol está forte, contrastando com o frio que faz na província de São Pedro. não dou mais que 10 passos até que sou abordado por uma senhora por volta de uns sessenta e poucos (ou tantos) anos.

- meu filho, para quê fumar?

é com esta pergunta que ela inicia um grande (e simpático) sermão sobre os malefícios do tabagismo. fala da preocupação de minha mãe, sobre a possibilidade de eu morrer de câncer (diz ela que ouviu de um especialista a opinião definitiva e que baliza o que diz: cigarro e câncer caminham juntos). também discorre sobre deus:

- deus sempre te carrega nos braços. mas se tu continuares a desafiá-lo, ele te solta. e aí não adianta rezar.

ainda fala sobre o meu futuro, elogia minha aparência (acho que porque recém cortei o cabelo e tirei a barba, cara de gurizote mesmo), e projeta grandes feitos para mim.

- tens um porte de líder.

até então ouvia mesmerizado as palavras desta doce senhora. palavras bem colocadas, bastante articulada. enquanto ela vai falando, o cigarro queima entre os meus dedos. sinto-me incapaz de dar uma tragada em frente à senhora. ela coloca a mão sobre a minha testa e me deseja juízo. diz que tenho uma longa vida pela frente. finalmente ela pergunta meu nome.

- nome de gênio. leonardo é nome de gênio.

o cigarro continua queimando entre os meus dedos enquanto começo a cogitar a própria existência, as casualidades, o destino, os sinais da vida e, talvez, de um deus. pergunto qual é seu nome.

- maria amélia coronel.

é irmã do escritor. orientadora educacional há mais de 35 anos. daí seu vocabulário rico de expressões que geralmente as pessoas esquecem que existem. mais uma vez me deseja juízo, sorte e amor. beijo sua mão e agradeço pelas palavras. jogo o cigarro (na verdade o que sobrou dele) no chão e sigo meu caminho. ainda imerso em pensamentos existencialistas e devaneios, retorno à agência. comento com o seu Luís - o porteiro - sobre a abordagem.

- uma senhora baixinha? irmã do coronel, né? vixe, esses dias fui fumar ali na rua e ela ficou TRINTA E CINCO MINUTOS me corneteando por causa do cigarro.

agora sei como se sente uma mulher diante um cafajeste que escreve os mesmos versos para todas as garotas e faz as próprias marcas de batom em sua roupa. de qualquer forma, largar o cigarro é uma coisa que irá acontecer.

mas sem
mensagens divinas nem adesivos de nicotina.


3 comentários:

Anônimo disse...

bá, que foda.
até vou fumar um cigarro depois dessa.

Anônimo disse...

hippies e velhinhas sabem das coisas...

ana succi disse...

HAHAHAHAHAHAHAHA

Fico só imaginado a cena...