4.12.07

Rede Nacional de Banalizaçao

Não muitos anos atrás, em um mundo nem tão diferente do que é hoje, a não ser pelo ponto de vista ajustado a um guri pançudinho de 12 anos de idade, a televisão brasileira se resumia a poucos canais abertos e uma tecnologia de tevê a cabo engatinhando. No final dos anos 80, a Xuxa ainda era a musa dos baixinhos, o Didi ainda fazia rir e a lambada chacoalhava esqueletos bem torneados em programas de auditório. As cores eram vivas e os cabelos armados, prontos para entrar em uma dança frenética, embalada pelo ritmo do primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil, pelo fim da cortina de ferro e pelos jabs de Mike Tyson.

Ayrton Senna se consolidava um herói nacional aos berros do Galvão enquanto Berger deslizava pelo muro. Morria Cazuza. Surgia o Faustão. A tevê refletia ainda um certo pudor residual da época de censuras, corria querendo ser livre mas ainda com aquele frio na barriga, meio sem saber pra onde ir.

Com a puberdade começando a brilhar nos olhos, catálogos da Avon e algumas incursões de nível top-secret às caixas de filmes proibidos na locadora da esquina eram os primeiros indícios de que o universo era maior que a vila do Chaves. A Bandeirantes era o único destino possível em noites de sexta-feira. O apresentador Miéle promovia uma festa nas noites de quinta-feira, com morenas e loiras gostosas e descabeladas, com direito a um strip total no fim do programa (mas a luz sempre apagava antes delas mostrarem o principal).

É claro que havia sempre a possibilidade de furtar uma revista naquela banca perto de casa (depois o pai ou avô iam lá pagar, felizes do interesse do garotão, e junto com o dono da banca dava risada e se lembravam das suas histórias de adolescentes de 20 anos atrás), ou de pagar uma graninha pro irmão mais velho do seu amigo alugar algum VHS. Com o passar do tempo, a Playboy acabava se tornando item obrigatório naquela coleção que ficava sob o colchão, e você mesmo já conseguia passar um migué no assistente novato da locadora, pra alugar um filmezinho.

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Duas semanas atrás, em um raro momento em que me consigo me encontrar com a tevê antes das onze da noite, me deparei assistindo à novela das nove, e qual não foi minha surpresa ao ver uma paródia moderna do programa do Miéle, digna de uma boa e velha Sexta Sexy. Várias mulheres muito bem apanhadas e agraciadas com o toque divino dançando em roupas generosas em visibilidade, deixando à vista de todo o Brasil ligadinho na tevê muitos e muitos pares de peitos siliconados.

Se não me engano o nome da moça é Alzira, mas o que importa é que a Flávia Alessandra perdeu totalmente o pudor e está mostrando tudo na televisão. Em horário nobre. Em novela que apresenta classificação etária de 12 anos. Não viu? Não tem galho. Bota no Google ou no Youtube que está lá. E a Playboy dela, já viu? Bota no Google então que certamente está lá.

Seria demagogia eu dizer que não aprecio. Mas seria demência total concordar que, junto comigo, crianças de 10 anos ou menos assistem aos mesmos programas em horário nobre. Não muito tempo atrás, crianças não tinham um acesso tão gratuito a este tipo de conteúdo(?). Penso no escritor da novela que precisou apelar desta forma para conseguir um pouco mais de audiência. Penso no diretor que aprovou as cenas, sedento de um pontinhos no Ibope e com medo de perder o emprego. Penso na atriz, que vulgarizou totalmente a sua imagem. Ok, concordo que deve ser bastante complicado mostrar os peitos na novela, mas aí pra encarar isso como arte é muita falta de, no mínimo, critério. Mas como já apareceu na Playboy, todo mundo já conhece, teoricamente, o conteúdo da moça.

A televisão se perdeu final, como diria um amigo meu. Já cansei de passar na rua e ver garotinhas de 7 anos rebolando como a Carla Perez ou Dani Bananinha, usando as roupas da Deborah Secco ou correndo atrás de garotos de 10 anos. Na minha época, crianças de 7 anos brincavam. Hoje em dia elas são consumidoras, em muitos casos ainda mais que eu ou você.

Mas tudo bem, acho que no fundo isso é porque estou ficando velho mesmo.

2 comentários:

uma simples menininha disse...

Além das crianças, outra classe é prejudicada ao se deparar com cenas dessas.
Que inveja da Flávia Alessandra, NUNCA, eu disse NUNCA terei um corpo como aqueles.
Mostrar coisas assim é crime para gordinhas.
E tenho dito!

Alessandra disse...

Ela pagou peitinho na TV em plena nove da noite?

Ahhh, Rede Bobo...

E não é só as "gordinhas" que se mordem, eu, magrela, tb nunca vou ter corpão assim.