7.12.07

A BULA* DA LOUCURA – OU UM NOBRE CAFA DA COROA



Pela história afora, e ela pode ser a sua própria, soubemos de patifes, cafajestes, pusilânimes e outros biltres que conquistaram reconhecimento praticando atos lúbricos ou imorais entre outras filhadaputices que qualquer mulher que tenha sido enganada ou rejeitada listaria aos borbotões sem maiores delongas. A televisão, o cinema e a literatura já apresentaram personagens que marcaram gerações, do Capitão Rodrigo Cambará ao Jorge Tadeu, ou do Gigolô Americano ao Alfie. Assim como o político corrupto, o advogado materialista e o publicitário egocêntrico, o cafajeste está definitivamente inserido em nossas sistemáticas vidas. Se você não é ou não foi, certamente já conheceu o sujeito. E gosta dele. Porque o cafajeste tem bom papo. Te leva no bico. Ele te paga uma ou sete cervejas e aí tu acredita até que ele trabalhou de figurante naquele filme do Walter Pena. Quem? Trabalhou com a Fernanda Torres e com o Francisco Cuoco. Não conhece? Não fez muito sucesso. Na verdade nem saiu em DVD.

Esse é o café-com-leite. Porque é só garganta. Os cafajestes perderam a força com a globalização, o movimento feminista e com o declínio da Igreja. Hoje não passam de charlatães de camisa engomada, metidos a don-juan do século vinte e um. Os verdadeiros cafajestes fizeram história. E um deles bagunçou um bom pedaço da Europa lá pelas fumaças do século dezesseis.

Depois da morte do papai, que “trabalhava” como REI da Inglaterra, assumiu o trono. Isso lá pelos onze anos de idade. Brincava de soldadinho de carne. De brinde, ossos e sangue, muito sangue. Uns tempos depois vem a morrer o irmão, que era casado com uma tal Catarina de Aragão da Espanha e não molhou o biscoito na espanhola. O ainda garoto mas já rei Henrique VIII não perdeu tempo, e depois de convencer o Papa a anular o casório e liberar a moçoila para a algazarra, foi lá e casou com a rapariga e consumou o fato. Foram seis filhos, dos quais só uma sobrou pra contar história, Mary. Cansado de tanta falta de sorte e muito afim de produzir um filho varão, o Henricão foi novamente trocar uma idéia com o Papa e convenceu-o a anular o casamento e nomeá-la Princesa Viúva. E como não era bobo, já tinha a substituta, uma prima de uma concubina com quem ele já tinha.........bom, era concubina. Ana Bolena era o nome da moça e mais uma moça foi o que ela conseguiu tirar do ventre para ofertar ao rei, que lógico, estava muito afim mesmo era de um herdeiro varão.

Na época, divórcios não existiam, a não ser quando existia um ótimo motivo, além de um pouco de poder e riqueza. Mas já tinha outra morena na ênfase. E dessa vez o papo não colou com o papa, que vetou a separação. E se não vai por bem, vai por mal. E de uma hora pra outra a pobre Ana Bolena virou adúltera, acusada de se fresquear com cinco elementos. E pra forca foram todos, um por um, em praça pública. E verdade ou não, o rei se livrou da mulher e juntou as perucas com Jane Seymor (que não é a mina do Em Algum Lugar do Passado). E deu no couro essa, porque logo já pariu o tão esperado sucessos do trono, Eduardo. Feliz da vida, Henrique VIII curtiu muito o filhão e a mulher, eleita por ele como a preferida. Renegou as filhas anteriores, chamou-as de ilegítimas e as rebaixou a LADYS. Muito ruim, muito ruim.

E como o que é bom nunca dura pra sempre, logo pintou outra Catarina na área, o que influenciou em mais um pedala-robinho na realeza. E depois de uma, veio outra Catarina. E todas foram assassinadas. Sem essa de acordar no outro dia, depois de uma noite lúbrica, olhar pra moça e largar um “tu fecha a porta quando sair, beleza?”. Vai pra guilhotina, chinoca!

Nessas alturas, o rei Henrique VIII já tinha quebrado o pau com a Igreja Católica, que não admitia as tentativas de divórcio e nem algumas opiniões meio radicais. Mandou o Papa às favas e criou a Igreja Anglicana, da qual se auto-denominou o ser supremo da instituição na Terra. Não por nada que foi excomungado. E depois de dominar o pensamento promover a verdadeira caça às bruxas e proibir a sodomia,engordou e começou a perder o tesão pela bagunça. Mesmo assim participou de mais algumas peleias e separou e casou mais uma vez. Morreu gordacho e como um dos reis mais tiranos de todos os tempos, com uns dezoito filhos no total (dos quais menos da metade restaram para contar história) e uma incalculável riqueza e poder acumulados. Aqui jaz Rei Henrique VIII da dinastia Tudor: o mais sacana, pervertido e psicopata governante jamais aclamado na Inglaterra.

E se você é, já foi ou conhece(u) um cafajeste, pense nisso: ou você não é de nada ou nunca viu um de verdade. E caso a resposta pra isso seja antagônica, por favor: muita calma nessa hora. Qualquer semelhança com pessoas reais é mera coincidência e blá blá blá.


*bula, neste caso, se refere a um documento pontífico ou à apresentação do mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa! História resgatada de minhas aulas no primeiro grau ainda (aliás, agora se diz ensino fundamental. é isso?)

Lembrava por cima só dessa história. Ou estória. Enfim, parabéns pela pesquisa, e sempre por esse tom sarcástico. Destilar veneno é a nossa praia...

abraço