11.6.07

Chuva, ócio, tédio e chuva.

enquanto vejo a chuva cair pela janela, tento em vão escrever alguma coisa, colocar uma idéia que seja no papel, numa desesperada busca por amenizar a monótona melancolia de dias a olhar a chuva cair pela janela. entre o barulho dos raios escuto as batidas irregulares do meu coração, perfeitamente compassadas com as batidas de meu pé ressonando pelo chão. a angústia é rapidamente percebida pelo gato preguiçoso de minha mãe, que espreita pela corredor, atento aos meus movimentos (o gato e a minha mãe). não bastasse estes guardiões informais da minha inabstrata clausura, a chuva castigava torrencialmente a terra e, segundo o noticiario, em muitos lugares do mundo. já fazem 4 dias que chove sem parar e eu começo a sentir a falta da nicotina em meu sangue. 4 dias sem tragar uma deliciosa fumaça de marlboro, sem sentir a brasa ardendo entre os meus dedos. oh céus, párem de trabalhar. ora bolas, é feriado, corpus christi, dêem um tempo aos que ainda habitam esta terra. mas então, não será esta sequencia pluviometrica um sinal de que algo não vai lá muito bem? essas histórias de aquecimento global eu já imaginava que teriam efeito, mas não que fosse tão logo. a que tipo de realidade estará fadada a humanidade? a impossibilidade de circular livremente pelas ruas será uma constante? penso que talvez a fúria das águas que derramam não seja o único motivo. haverá o dia em que as pessoas privadas das ferramentas básicas de sobrevivência tornar-se-ão hordas famintas e degeneradas, esteticamente amorais e impulsionadas unicamente pelo instinto básico de auto-preservação. as moradias serão bases de operações sociais, da onde alguém poderá ir normalmente para o emprego, de carro ou de bonde, vestindo um caro terno ou ousando exóticos perfumes através do Second Life. não me parece mais tão absurdo a irrealidade desconstruída pelo filme a Matrix. não posso sair de casa. a tempestada atingiu uma antena próxima à minha casa e faz 2 dias que estou sem luz. meus cigarros acabaram e eu assisto, decadente, ao mundo sendo enxugado de seus pecados. estou sóbrio de minha faculdades quando desejava estar absorto em devaneios insólitos, longe do cinza que insiste em predominar no céu e nas (poucas) cores que entram pela minha janela. será que deveria eu me recolher a insignificância de uma existência sem sentido, atirado aos lençóis amanhecidos e em meio a lembranças de uma infância que já cansei de lembrar que eu esqueci? ou devo me lançar a incerteza e aos riscos de um passeio pela cidade-caos, mergulhada na resposta do mundo contra o homem? quantas pessoas desistem? quem será que enfrenta a chuva para arejar a cabeça? devo esquecer os riscos? enfrentar a barreira montada pelos guardiões do tédio envelhecido?

oba, achei uma garrafa de vinho pela metade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Será que essas nuvens negras vêm pra cá? Bom, pelo menos vejo inspiração no meio do tédio.
Bjs!